quinta-feira, 20 de junho de 2013
O surgimento do homem, os primeiros agrupamentos sociais e o aparecimento das famílias.
O surgimento do homem, os primeiros agrupamentos sociais e o aparecimento das famílias.
As
teorias sobre a origem do homem são relativamente recentes, só
apareceram no final do século XIX e até hoje estão em constante
alteração, sobretudo, devido a descobertas que costumam alterar a
opinião dos estudiosos do tema.
Pensar
a evolução das espécies só tornou-se possível depois da revolucionaria
teoria do inglês Charles Darwin, publicada na obra A origem das espécies em 1859.
Polêmica
até os dias atuais, ainda combatida pelo chamado criacionismo, Darwin
sustentou, com base em observações empíricas na ilha de Galápagos
(Equador), que a vida está em permanente adaptação com relação ao meio e
a luta pela sobrevivência.
Para
ele, a lei do mais forte comanda o processo de evolução, aglomerando-se
com o processo de seleção natural, dentro do contexto da teoria da
evolução das espécies.
Segundo
a qual, somente os mais fortes, os mais adaptados, sobrevivem, enquanto
mutações genéticas garantem vantagens que alteram características
físicas das espécies.
Neste sentido, o estudo de fósseis e vestígios arqueológicos permitiu traçar uma linha evolutiva da espécie humana.
Os
profissionais responsáveis por estes estudos são paleontólogos,
arqueólogos e antropólogos, embora historiadores também contribuam com
analises sobre os indícios encontrados.
Mais
recentemente, geneticistas se juntaram a equipe de estudiosos do tema,
colaborando com o rastreamento das origens do homem, chegando até a Eva
Genética, a mulher da qual todos descenderíamos, pertencente já aos Homo
Sapiens.
No entanto, antes dela a espécie humana teve outros ancestrais.
O Ramapithecus e a polêmica da ramificação da espécie.
Até
recentemente, acreditava-se que o ancestral mais antigo do homem era o
Australopitecus, cujo nome significa macaco do sul, um fóssil descoberto
no sul da África em 1924.
Segundo
livros didáticos ainda em uso, este primata teria aparecido há
aproximadamente 1 milhão de anos, caracterizando-se por possuir cérebro
um pouco maior que seus parentes, postura ereta, melhor visão e maior
habilidade com as mãos.
O
que teria permitido manipular instrumentos como varas para derrubar
frutas, além do desenvolvimento de habilidades sociais que
possibilitaram a vida em grupo.
Trata-se de Lucy, um Australopitecus com 3 milhões de anos.
Mudanças mais radicais ocorreram com descobertas no inicio do século XXI, originando outra teoria.
A
qual defende a idéia que o Australopitecus é um primo distante do homem
moderno, uma ramificação a partir de um ancestral comum.
Segundo
esta hipótese, o Australopitecus não seria um ancestral do homem, até
porque encontraram ramificações que dividiram o dito Australopitecus em
subespécies tal como Africanus e Boisei, as quais terminaram também
extintas.
Na
realidade, o Australopitecus e o Homo Habilis, este último nosso
ancestral direto mais antigo, conviveram na mesma época, há cerca de 3
milhões de anos até aproximadamente 1 milhão de anos.
Ambos descendem do Ramapithecus, um primata que surgiu há 12 milhões de anos, em diferentes regiões da África, Europa e Ásia.
Trata-se de um primata de pouco mais de um metro de altura, que viveu em florestas e savanas e que foi se tornando bípede.
Era dotado da habilidade de atirar objetos para espantar predadores e carregar as crias.
Porém,
conforme se adaptou para caminhar, perdeu a habilidade de agarrar com
os pés, o que impediu os bebês de grudar na mãe com as quatro patas,
fazendo desenvolver a postura ereta para liberar as mãos para o
transporte das crias.
Ocorreram
mutações que, pelo processo de seleção natural, originaram o
Australopitecus e o Homo Habilis, muitas vezes confundidos nos livros
didáticos como a mesma espécie, utilizados erroneamente como sinônimos.
Porém,
existe mais de uma ramificação a partir do Ramapithecus que torna o
quebra cabeças mais complexo e desorganizado, pois, em 1891, foi
descoberto na ilha de Java o Pitecantropus.
Um
homínida que apareceu há cerca de 750 mil anos, cujo nome significa
macaco em pé, o qual antes acreditava-se descender do Australopitecus,
mas que na realidade está em uma linha evolutiva paralela.
Atualmente,
a opinião mais aceita diz que o Pitecantropus é apenas mais um primo do
Homo Habilis, tendo como ancestral comum o Ramapithecus.
Um
fóssil, descoberto na China em 1921, permitiu observar que o
Pitecantropus evoluiu, originando o Sinantropo, um primata de postura
ereta, cérebro maior que seu antecessor e que conhecia o uso do fogo.
É
provável que o Australopitecus, Pitecantropus, Sinantropo e Homo
Habilis representem mutações do Ramapithecus que conviveram em grupos
rivais, disputando espaço.
A espécie mais apta sobreviveu e sobrepujou as demais, no caso o Homo Habilis, as demais se extinguiram.
Entretanto,
por volta de 1 milhão de anos surgiu o Homo Erectus, descendente direto
do Homo Habilis, um hominídea fisicamente não muito diferente de nós,
de aspecto robusto e forte, com cabeça achatada e maxilar saliente.
Este ser conhecia o fogo e vivia em grupos, possuindo noções de convivência social mais elaboradas.
Provavelmente
foi empurrado por mudanças climáticas, iniciando uma migração em massa
para a África, onde os sobreviventes da jornada originaram o Homo
Sapiens há 500 mil anos.
Nascia
o homem moderno, com todas as características que temos hoje, mas sem
os mesmos hábitos ou modos de se relacionar entre si e com a natureza.
O Homo Sapiens sofreu uma mutação mal sucedida entre 100 e 65 mil anos, fazendo surgir na Europa o Neandertal.
Um
hominídeo com cérebro menor que o Homo Sapiens, mas maior que o Homo
Erectus; porém com grande força física e conhecedor do uso de lanças e
machados de pedra lascada.
Este
realizava ainda um tipo de culto aos mortos, colocando enfeites e
alimentos nos túmulos, para que o morto pudesse utilizar em outra vida.
O
Neandertal simplesmente desapareceu há 50 mil anos, possivelmente se
misturou com o Homo Sapiens, visto que alguns de nós possuem traços
genéticos que remetem a eles.
Seja
como for, o homem moderno se tornou uma praga, transformando a natureza
com fins a sua sobrevivência, espalhando-se pelo planeta e se
multiplicando.
O povoamento do planeta pelo Homo Sapiens.
Depois
que o Homo Erectus migrou para a África, originando o Homo Sapiens há
500 mil anos, segundo a teoria mitocondrial, permaneceu no continente
por 300 mil anos.
Só
iniciou uma nova aventura migratória há 200 mil anos, quando o nível
das águas começou a baixar, permitindo, inicialmente, ir para o sul do
continente africano.
Depois, por volta de 100 mil anos, atravessou o mar Vermelho, quando então era possível cruzá-lo a pé, indo para o Oriente Médio e para a região da Índia.
Há 55 mil anos navegou até a Oceania, chegando até a Austrália, ao mesmo tempo, espalhando-se pela Ásia Central.
Até então, é provável que a última era glacial tenha impedido a migração para a Europa.
Isto,
a despeito da teoria eurocêntrica que afirma que a África é o berço da
humanidade e que a primeira migração do continente teria sido para a
Europa, ao invés da Ásia.
Entretanto,
vestígios arqueológicos e o estudo genético provaram que a migração
para a Europa é bem mais recente, remonta há 55 mil anos, em algumas
regiões ocorreu somente há 30 mil anos.
Já a migração para a América teria ocorrido entre 40 e 100 mil anos, coexistindo duas teorias que explicam como aconteceu.
Segundo a teoria do povoamento pela ponte do Estreito de Bering, entre 40 e 30 mil anos, a passagem entre o norte da América e da Ásia era mais estreita.
O nível do mar era pelo menos 120 metros mais baixo, além de existir uma provável faixa formada por água congelada.
O que teria permitido cruzar a distância a pé ou navegando curtas distâncias.
Outra
teoria, defendida por cientistas do Museu do Homem em Paris e já
recriada por arqueólogos, afirma que o homem teria migrado a partir da
Oceania, navegando em embarcações primitivas, indo de ilha em ilha até
chegar a América, um processo que teria demorado 6 mil anos.
Atualmente,
as duas teorias são aceitas, sendo provável que os dois processos
ocorreram simultaneamente, ao passo que o povoamento da América teria se
dado tanto pelo norte como sul do continente.
Posteriormente, migrações para o sul e norte terminaram de povoar toda a América.
Neste
sentido, o fóssil humano mais antigo do continente teria no máximo 20
mil anos, chamado pelos paleontólogos como Luzia, o qual foi encontrado
na América do Norte.
Por sua vez, segundo Pedro Paulo Funari, na América do Sul, o esqueleto mais antigo teria por volta de 12 mil anos.
Entretanto,
a arqueóloga brasileira Nède Guidon encontrou vestígios que não se
enquadram neste grande quebra-cabeças na Serra Capivara, no Piauí.
Trata-se
de restos de uma fogueira (carvões e artefatos de rocha lascada) que
datam de 50 mil anos, além de pinturas rupestres com pelo menos 40 mil
anos.
Diante destas descobertas, todas as teorias, ou pelo menos sua datação, sobre o povoamento da América, poderiam ser contestadas.
Alguns
estudiosos passaram, inclusive, a defender o inicio da América há 100
mil anos, quando a última era glacial teria facilitado a passagem a pé.
O
que faz com que seja plausível a chegada do homem à América por várias
passagens, incluindo sua migração direto da África, passando pelo
Atlântico, quando o nível do oceano estava mais baixo, com grandes
extensões de água solidificada pelo frio.
Destarte,
esta teoria é controversa, não podemos esquecer que existem questões
políticas, ideológicas, sociais e culturais envolvidas.
O
predomínio de uma visão eurocêntrica, dificilmente permite aos
pesquisadores admitir um povoamento da América quase ou mais antigo que o
asiático ou europeu.
É
o mesmo tipo de questão que, por exemplo, faz as civilizações nativas
da América serem tratadas como primitivas, embora, em vários aspectos,
sejam superiores aos europeus do século XV e XVI.
Em
todo caso, seja qual for a datação ou percurso da migração do homem
pelo planeta, cabe perguntar: o que teria motivado o deslocamento destes
grupos humanos?
Uma explicação convencional diz que mudanças climáticas, a migração da caça, teriam feito os homens buscarem novos territórios.
Outra explicação afirma que a explosão demográfica tornou alimento escasso e forçou a migração humana.
No
entanto, Jaime Pinsky forneceu uma hipótese mais original que não anula
as anteriores, para ele a migração humana aconteceu devido ao espírito
de aventura.
A natureza humana, a curiosidade de explorar e saber o que está além, foi o que moveu o homem a migrar cada vez para mais longe.
Os primeiros agrupamentos sociais.
Desde 1 milhão até 10 mil anos atrás, os grupos hominídeas foram basicamente compostos por caçadores, pescadores e coletores.
O que exigiu uma organização social para coordenar os esforços de caça, com uma divisão de tarefas pelo sexo e idade.
As mulheres coletavam frutas e raízes, cuidando dos filhos, amamentando a criança até que desse a luz ao próximo rebento, em um espaço estimado em quatro anos, tratando também do preparo dos alimentos.
Os homens caçavam e pescavam, perseguindo animais em grupo, preparando artefatos para facilitar a caça, como lanças e machados de pedra.
Aos
caçadores cabia a distribuição da carne, feita através de longos
rituais, influenciada pelo grau de parentesco, alianças e devolução de
favores.
O
caçador mais forte liderava o grupo, enquanto os mais velhos formavam
um conselho também destinado a ensinar os mais jovens, ou eram deixados
para morrer quando representava um fardo para o grupo, isto porque os
homens eram nômades, migrando atrás da caça e pesca.
Estes
primeiros grupos sociais, segundo vestígios arqueológicos, não eram
superiores a trinta indivíduos, fixando-se provisoriamente em cavernas
ou habitações construídas com material local.
Sempre
próximos a fontes de água doce, tal como rios, ou então em locais
elevados para facilitar a visualização de predadores e grupos rivais.
Viveram na época que chamamos de pré-história, o período anterior a invenção da escrita, entre 4 e 3 mil anos antes de Cristo.
Isto
porque é um período considerado anterior a história propriamente dita,
já que não existem relatos escritos sobre a vida destes grupos, somente
vestígios arqueológicos que permitem a penas suposições.
Dentro
da pré-história, o espaço de tempo que vai da origem do homem até 12
mil anos é chamado de Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.
O inicio da sedentarização da humanidade e a invenção da agricultura é chamado de
Mesolítico ou Nova Idade da Pedra, a Idade Média da pré-história.
Mesolítico ou Nova Idade da Pedra, a Idade Média da pré-história.
Um
período de transição com novas técnicas e instrumentos surgindo,
convivendo com e velhos hábitos e práticas, delimitado entre 12 até 10
mil anos, embora alguns autores delimitem seu fim nos 6 mil anos.
Entre 10 e 4 ou 3 mil anos, acorreu a Revolução Neolítica (Período Neolítico), quando o homem se tornou sedentário, fixando-se em aldeias próximas a fontes de água e terras férteis.
Iniciou-se então a domesticação de plantas e animais, com a agricultura e o pastoreio.
As primeiras espécies vegetais domesticadas foram grãos, cereais e raízes; tal como milho, trigo, cevada, arroz e batata-doce.
Ao passo que os primeiros animais domesticados foram cães, cabras, bois, camelos e dromedários.
Em
pouco tempo, o homem aprimorou técnicas de construção de moradias,
criando peças de cerâmicas para armazenar alimentos e servir como
decoração.
Simultaneamente,
começou a aperfeiçoar instrumentos agrícolas, o que gerou excedente e
possibilitou o inicio do comércio, forçando o aparecimento de novas
tecnologias para o transporte das mercadorias.
Foi
dentro deste contexto que a roda foi inventada há cerca de 5 mil anos,
apesar de no inicio sua utilização se restringir para fazer cerâmica,
portanto usada na horizontal.
De
qualquer forma, durante o Neolítico, também chamado Idade da Pedra
Polida, a sedentarização trouxe mudanças significativas na organização
social, cultura e religião.
Os
agrupamentos humanos se tornaram mais numerosos, comportando uma
explosão demográfica que originou as primeiras cidades e,
posteriormente, as primeiras civilizações.
Este
aumento das populações humanas criou rivalidade entre grupos humanos,
fazendo nascer a figura do guerreiro e organizações militares para
proteger ou tomar recursos e terras.
Neste sentido, a divisão de tarefas continuou obedecendo uma dinâmica conforme sexo e idade.
Onde aos homens cabia preparar a terra para o cultivo e ará-la, cuidando também da caça e pesca, servindo como guerreiros.
As mulheres, além das tarefas domésticas e do cuidar dos filhos, passou a caber a rotina da lavoura e a colheita.
Aos mais jovens, principalmente do gênero masculino, era atribuída a tarefa de pastoreio de animais de pequeno porte.
Os
mais velhos deixaram de ser abandonados para morrer, passaram a gozar
de maior prestigio, compondo conselhos que decidiam os destinos do grupo
e guardando e preservando a memória oral.
No
aspecto cultural e religioso, mitologias nasceram para tentar explicar
os fenômenos da natureza e padronizar comportamentos, quando apareceram,
primeiro, o culto dos antepassados e, depois, a figura dos deuses.
As mulheres passaram a ser vistas como seres sagrados, detentoras do dom da vida.
Para
cultuar e simbolizar a religião e a política, começaram a ser
esculpidas estatuas, inicialmente, ligadas ao culto da fertilidade.
Igualmente,
foi aperfeiçoado o culto funerário e a preservação da memória dos
antepassados, algo vinculado com o surgimento do sentimento de família.
O conceito de família.
Embora,
em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de
conservação e reprodução da espécie, o conceito envolve questões
vinculadas a aspectos sociais que interferiram diretamente na evolução
humana.
A
família sofreu consideráveis modificações ao longo da história,
regulando as interações sociais e cunhando preceitos morais e éticos,
fomentando leis e normas.
No entanto, o conceito de família, independente de suas variações, é basicamente o mesmo desde os primórdios da humanidade.
Segundo
Murdack, família é “um grupo social caracterizado pela residência em
comum, com cooperação econômica e reprodução”, um conceito bastante
elástico.
Para
Mair, família é “um grupo doméstico no qual os pais e filhos vivem
juntos”, uma concepção mais restrita e hoje colocada de lado pela
maioria dos antropólogos.
Para Beals e Hoijer, família é “um grupo social cujos membros estão unidos por laços de parentescos”.
Outro
conceito aparentemente estreito, mas que, diante da elasticidade do
estabelecimento de graus de parentescos artificiais, admitidos como
possíveis pela antropologia, esta concepção torna-se ampla.
Em
outras palavras, qualquer que seja a linha teórica, a verdade é que
todos os conceitos se encaixam na seguinte definição de família:
Família
é todo conjunto de pessoas unidas por interações sociais com certo grau
de coesão entre seus membros, com graus de parentesco artificiais ou
concretos, declarados ou ocultos, com ou sem ligação genética.
Hoje,
apesar de no passado já terem sido registrados casos semelhantes ao
longo da história da humanidade, a família pode tanto ser constituída
por pais e filhos, como por um conjunto de amigos, onde cada membro
assume uma função social perante os demais.
Tipos de família.
Dentro
do âmbito da amplitude do conceito de família, para a antropologia
existem algumas classificações tipológicas que visam ajudar o estudo.
Assim,
pensando nas diferentes maneiras como se organizam ou estruturam os
grupos, variáveis no tempo e espaço, a família pode ser classificada em
cinco tipos:
1. Elementar.
Também
chamada de nuclear, natal-conjugal, simples, imediata ou primaria; é
aquela formada por pai e mãe, homem e mulher ou aqueles que assumem a
vida conjugal monogâmica, podendo ser um casal de dois homens ou duas
mulheres.
Fazem parte deste tipo de família, além do casal, também os filhos, quer sejam gerados biologicamente ou agregados ao grupo.
A
despeito de, até pouco tempo atrás, só ser considerado como pertencente
a este tipo de modelo a família patriarcal tradicional com laços
sanguíneos.
Não
obstante, a família elementar, do ponto de vista antropológico, é
considerada efêmera, pois à medida que os filhos crescem, constituindo
novas famílias, o grupo diminui e, eventualmente, tende a desaparecer
com a morte dos pais.
Sobrevive, com raras exceções, não mais que duas ou três gerações.
2. Extensa.
Também
chamada grande, é uma unidade formada por duas ou mais famílias de tipo
elementar, com grau de parentescos mais complexos, envolvendo avós,
tios, sobrinhos, primos, afilhados e até agregados.
No
entanto, a unidade nuclear, com pai e mãe, ou aqueles que exercem a
função, é bem definida e nítida, admitindo apenas relações monogâmicas
entre cônjuges.
3. Composta.
Também chamada complexa ou conjunta, é uma unidade formada por três ou mais cônjuges e seus filhos, com estrutura poligâmica.
É um modelo oriental de família, existente desde os primórdios da humanidade e muito comum em sociedades matriarcais
4. Conjugada Fraterna.
Refere-se a uma unidade composta por membros que compartilham funções, não existindo a presença rígida de pai e mãe.
Ora um membro do grupo exerce o papel de pai, ora de irmão ou filho, tudo depende do contexto e do momento.
Um
bom exemplo são as sociedade indígenas, onde a criança é de
responsabilidade de toda a tribo, embora existam funções delimitadas por
sexo e idade.
Nas
sociedades modernas, diante da ausência do real ocupante da função
exercendo a mesma, existe uma tendência a sempre alguém ocupar o lugar
vago, mesmo que temporariamente.
5. Fantasma.
Consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos.
Isto,
mesmo no caso de pai ou mãe vivos, mas ausentes, pois quando a função
não é desempenhada, pelo menos em um aspecto, o elemento torna-se um
fantasma.
Funções da família.
Dentre
as diversas funções da família, as quais tem variado através dos
séculos, os estudiosos apontam quatro básicas e quatro subsidiárias.
As funções básicas, também chamadas de fundamentais, são encontradas em todos os grupos humanos, sendo elas:
1. Sexual.
Atende as necessidades sexuais permitidas por meio da institucionalização da união ou casamento.
2. Reprodução.
Visa
perpetuar a espécie, mesmo em sociedades onde há liberdade sexual, a
procriação é regulada com normas e sanções que legitimam a família.
3. Econômica.
Assegura
o sustento e proteção do grupo, conduzindo a divisão de tarefas e a
estratificação, com status diferenciados entre os membros.
4. Educacional.
O
grupo, através da coesão, arca com a responsabilidade de transferir os
conhecimentos acumulados pela humanidade de geração em geração, criando
condições para que exista uma cooperação entre os membros.
O que torna, teoricamente, a vida em sociedade possível.
Portanto,
as funções básicas da família podem ser desempenhada de várias
maneiras, dentro dos mais diversos sistemas culturais, moldando as
personalidades individuais.
Como agente educador, a família pode combinar duas funções especificas:
1. Socializadora.
Na
medida em que transmite a herança cultural e social durante os
primeiros anos de vida (linguagem, usos, costumes, valores e crenças), a
família é peça essencial no processo de endoculturação, preparando a
criança para o ingresso na sociedade.
2. Social.
Proporciona
a conquista de diferentes status dentro da estratificação social, tal
como o posicionamento étnico, nacional, religiosa, político, educacional
e até de classe.
Além
destas divisões, alguns autores classificam quatro funções
subsidiárias, apesar de outros afirmarem que perderam sentido na
sociedade moderna.
No entanto, cabe ressaltar que, diferente das funções básicas, as subsidiarias não existem em algumas sociedades.
Estas funções subsidiarias podem ser assim divididas:
1. Religiosa.
Une seus membros através de uma rede de direitos e proibições morais, estabelecendo laços afetivos e sentimentais.
2. Jurídica.
Impõem obrigações definidas entre os membros, mas também direitos.
O que garante a reprodução do sistema econômico e político vigente, assim como a manutenção do status individual.
3. Política.
Propicia proteção potencializando apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas.
Neste
sentido, reforça a saúde física e mental do individuo, constituindo um
recurso para lidar com situações associadas à vida em comunidade.
4. Recreativa.
Constitui uma válvula de escape para as tensões fora do grupo, um elemento de fuga do stress.
Embora
esta válvula de escape, desvinculada da função religiosa e associada a
outros fatores, possa conduzir a violência domestica.
Casamento e família.
Freqüentemente associada ao casamento, para entender a família integralmente, é necessário discutir o união entre cônjuges.
Na sociedade, em geral, existem duas formas de relação, do ponto de vista antropológico, entre seres humanos: união e casamento.
Tradicionalmente, a união consiste no ajuntamento de indivíduos do sexo oposto sob influencia do impulso sexual.
Modernamente, a união também pode ser caracterizada pelo ajuntamento também entre indivíduos do mesmo sexo, contanto que exista influencia de impulso sexual.
De
qualquer forma, a união não estabelece necessariamente direitos e
obrigações e, do ponto de vista antropológico, não constitui
obrigatoriamente uma família.
Para que isto aconteça é necessário o reconhecimento dos envolvidos e da sociedade.
Entretanto, a união pode conduzir ao matrimonio ou casamento, quer seja reconhecido ou não religiosamente ou pelo Estado.
O
que caracteriza o casamento é, justamente, a união orientada para a
constituição da família, implicando em costumes complexos e o
estabelecimento de laços afetivos mais estreitos, quer dentro da
monogamia ou da poligamia.
Assim,
o casamento ou a união é a base para a construção da família e seu
principal elemento agregador, podendo comportar múltiplas soluções e/ou
problemas que afetam todos os seus membros.
Família e escola.
Existe,
em quase todas as sociedades, uma tendência para que certos aspectos do
adestramento das crianças sejam assumidos por agentes externos à
família, tal como a escola.
O
grande problema é que o saber escolar, muitas vezes, distancia-se da
realidade, impedindo a assimilação democrática do conhecimento,
excluindo e limitando o acesso ao saber.
A
escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos
por aqueles que controlam o sistema educacional, dentro do âmbito do
fordismo, acarretando em problemas como a questão da “violência
simbólica”, discutida por Bourdieu e Passeron.
Portanto,
embora a sociedade transfira, cada vez mais, responsabilidades da
família para a escola, cabe lembrar que somente a primeira constitui um
grupo primário.
A escola é um grupo secundário e nunca poderá substituir a família na educação das crianças.
Concluindo.
A
história da humanidade remonta aos seus antepassados mais remotos há 12
mil anos atrás, desde então um longo caminho foi percorrido até os
nossos dias.
Entretanto,
a aceleração material e cultural humana só começou com a invenção da
escrita, cerca de 4 ou 3 mil anos antes de Cristo, embora a evolução
tecnológica só tenha assumido um ritmo mais rápido a partir do século
XVIII e ainda mais desenfreado na segunda metade século XX.
Entretanto,
a despeito deste fato, o sentimento de família sempre foi o mesmo desde
os primórdios da origem da instituição, mas no século XXI passou a
sofrer constante modificação.
O
que remeteu o que antes era considerado papel da família para dentro da
escola, gerando inúmeros problemas, já que instituições educacionais
não estão preparadas para cumprir o que a sociedade erroneamente espera
dos profissionais da educação.
Seja
qual for o problema, a resolução não está apenas no tratamento do
educando, mas sim na orientação familiar, principalmente para que assuma
suas responsabilidades.
O vinculo dos sujeitos com a família é essencial para um desenvolvimento coerente.
O
problema do individuo pode ser, na realidade, um problema de sua
família, podendo, inclusive, agravar situações em um efeito em cascata
transposto para a sociedade.
Por
outro lado, trabalhar com a família, permite ao profissional da
educação realizar verdadeiramente uma profilaxia, uma prevenção do
agravamento de problemas já existentes.
Para
solucionar as questões que diariamente se colocam aos educadores,
dentro da escola, talvez devamos pensar em retomar alguns aspectos do
ensino tradicional, só assim será possível auxiliar o educando na
passagem da heteronomia para a autonomia.
domingo, 16 de junho de 2013
Mineração no Brasil Colônia
Mineração no Brasil Colônia
Condicionantes da mineração – Até
o século XVII, a economia açucareira era a atividade predominante da
colônia e o interesse metropolitano estava inteiramente voltado para o
seu desenvolvimento. Porém, a partir de meados do século XVII, o açúcar
brasileiro sofreu a forte concorrência antilhana, claro, os holandeses,
uma vez “expulsos” passaram a produzir em suas colônias no Caribe,
fazendo com que a Coroa portuguesa voltasse a estimular a descoberta de
metais.
Os paulistas, que conheciam bem o
sertão, iriam desempenhar um papel importante nessa nova fase da
história colonial. Já em 1674, destacou-se a bandeira de Fernão Dias
Pais, que, apesar de não ter descoberto metais preciosos, serviu para
indicar o caminho para o interior de Minas. Poucos anos depois, a
bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva – o Anhangüera – abriria caminho
para o Brasil central (Goiás e Mato Grosso).
Descoberta do ouro e povoamento
– A procura de metais preciosos no Brasil era bem antiga e datava do
início da colonização, sobretudo depois da descoberta da rica mina de
prata de Potosí, em 1545, na atual Bolívia. A criação do governo-geral
em 1548, e a sua instalação no ano seguinte, foi um reflexo daquela
descoberta.
De fato, diversas foram as “entradas”
(expedições sertanistas oficiais) que partiram da Bahia, Espírito Santo,
Ceará, Sergipe e Pernambuco para o interior.
Os principais exploradores do sertão,
foram os paulistas. Com um irrisório apoio oficial, Fernão Dias Pais
partiu em 1674 para o sertão, onde permaneceu por seis anos, chegando ao
Jequitinhonha. Porém, não descobriu nada de valor. Em 1681 encontrou
turmalinas acreditando serem esmeraldas.
Contudo, durante os anos em que
permaneceu no sertão, desbravou grande parte do interior das Gerais e
abriu caminho para futuras descobertas de importância.
Costuma-se atribuir o início da
mineração à descoberta do ouro feita por Antônio Rodrigues Arzão, em
1693, embora a corrida do ouro começasse efetivamente com a descoberta
das minas de Ouro Preto por Antônio Dias de Oliveira, em 1698.
Além de se difundir pelo Brasil, a notícia chegou a Portugal através da correspondência dos governadores ao rei.
De diversos pontos do Brasil começou a
chegar grande quantidade de aventureiros, ávidos de rápido
enriquecimento. Mesmo de Portugal vieram, a cada ano, cerca de 10 mil
pessoas, durante sessenta anos.
A primeira conseqüência desse
deslocamento maciço da população para as regiões das minas foi a grave
carestia, que se tornou particularmente catastrófica nos anos 1697 –
1698 e, novamente, em 1700 – 1701. O jesuíta Antonil, que viveu nesse
tempo, escreveu que os mineiros morriam à míngua, “com uma espiga de
milho na mão, sem terem outro sustento”.
A Guerra dos Emboabas – O
estopim da guerra foi o desentendimento entre Nunes Viana e Borba Gato,
que era guarda-mor das Minas e, portanto, representante do poder real. A
fim de combater o contrabando do ouro, a Coroa havia proibido o
comércio entre as Minas e a Bahia, com exceção do gado. Apesar dessa
determinação, o comércio proibido continuou, sob a liderança de Nunes
Viana. Borba Gato determinou então a expulsão de Nunes Viana das Minas,
mas este não a acatou e foi apoiado pelos emboabas.
Ora, a maior parte das Minas era
ocupada pelos emboabas, e os paulistas estavam concentrados no rio das
Mortes, de onde os emboabas decidiram, então, desalojá-los. Sendo
minoritários, os paulistas se retiraram, mas um grupo deles, com maioria
de índios, foi cercado pelos emboabas, que exigiram a rendição,
prometendo poupar-lhe a vida caso depusesse as armas. Foi o que fizeram
os paulistas. Mas, mesmo assim, foram massacrados no local que ganhou o
nome de Capão da Traição.
Expulsos das Minas, os paulistas penetraram em Goiás e Mato Grosso, onde novas jazidas seriam descobertas.
A articulação econômica
– Ao abrir-se como um grande mercado, a mineração foi responsável pela
articulação econômica da colônia, integrando não apenas São Paulo, Rio e
Bahia, mas também, através de São Paulo, a região sulina como um todo.
O gado muar era essencial como meio de
transporte. E o principal centro produtor estava localizado na região
platina, que, tradicionalmente, fornecia esse gado para as minas
peruanas. Com a decadência destas últimas, um novo estimulo para a sua
criação veio de Minas. Assim se intensificou a ocupação da região
platina, que resultou, no final, na incorporação do Rio Grande do Sul ao
domínio português.
Minas era também um grande mercado de
escravos. A crescente demanda de mão-de-obra escrava provocou
significativas alterações no tráfico. Na África, a moeda de compra de
escravos era o fumo. A Bahia e Pernambuco tornaram-se, ao mesmo tempo,
grandes produtores de fumo e agenciadores de escravos africanos,
propiciando o aparecimento de armadores e traficantes brasileiros.
Os traficantes nordestinos chegaram a
superar a concorrência de nações poderosas como Inglaterra, França e
Holanda, batendo também os portugueses.
Beneficiados com a abertura do
“caminho novo”, mercadores do Rio de janeiro se dedicaram intensamente
ao tráfico, utilizando, como moeda de compra de escravos, aguardente
(pinga), açúcar e até ouro.
A intensificação do tráfico teve
efeitos internos importantes. Na Bahia e em Pernambuco ocorreu a
expansão da cultura do tabaco e, no Rio, do engenho de aguardente,
destacando-se Parati.
Assim, atuando como pólo de atração
econômica, a mineração favoreceu a integração das várias regiões antes
dispersas e desarticuladas. Surgiu, desse modo, um fenômeno antes
desconhecido na colônia: a formação de um mercado interno articulado.
Outra conseqüência importante da mineração foi a de ter deslocado o eixo
econômico do nordeste para o sul, valorizando principalmente o porto do
Rio de Janeiro. Não foi por acaso que em 1763, na administração
pombalina, â capital da colônia acabou transferida da Bahia para o Rio
de Janeiro.
Contrabandeando
Portugal
tinha, nesse quadro, uma posição parasitária. A Coroa procurava extrair
o máximo de benefício através da cobrança de impostos, adotando medidas
para evitar â sonegação e o contrabando. E não perdia nenhuma
oportunidade para carrear o ouro para os seus cofres. Ela cobrava
impostos nas alfândegas portuguesas e brasileiras, impunha taxas para â
passagem de rios, estabelecia impostos para lojas e vendas e também
sobre â comercialização de escravos, sem contar os impostos que incidiam
diretamente sobre â mineração, como o quinto.
Porém,
Portugal tinha um ponto fraco: â sua indústria manufatureira era muito
pouco desenvolvida, de modo que â maioria das mercadorias vendidas às
minas era importada da Inglaterra. Os ingleses possuíam, só em Lisboa,
cerca de noventa casas comerciais. Assim, lucravam indiretamente com o
comércio entre Portugal e o Brasil e, também, diretamente através do
contrabando. E esse contrabando era feito abertamente e, muitas vezes,
com â cumplicidade das autoridades coloniais portuguesas.
Os
holandeses e franceses, que não tinham esse mesmo acesso, conseguiam
introduzir suas mercadorias através do contrabando realizado com navios
brasileiros na África, que, além de escravos, traziam seus produtos para
serem vendidos nas minas.
Mineração e urbanização
A
atividade mineradora era altamente especializada, de modo que toda
mercadoria necessária ao consumo vinha de fora. Por isso, ao lado dos
milhares de mineradores, foram se estabelecendo artesãos e comerciantes,
dando à região das minas um povoamento com forte tendência
urbanizados. Também â administração, preocupada em evitar o contrabando
e â sonegação, favoreceu a urbanização. O agrupamento em cidades
facilitava o controle sobre â produção minerados.Assim, rapidamente os
arraiais de ouro se transformavam em centros urbanos: Vila Rica do Ouro
Preto, Sabará, Ribeirão do Carmo (atual Mariana), São João del Rei, etc.
Por
serem grandes as incertezas, â atividade mineira não permitia â
constituição de empresas de grande vulto, em caráter permanente, salvo
em casos reduzidíssimos dos grandes mineradores. Para as empresas de
menor tamanho, devido às incertezas e à voracidade fiscal, a situação
geral era a impermanência, o que resultou numa forma muito especial de
trabalho escravo. Não podendo arcar com os custos da manutenção de uma
escravaria numerosa, os pequenos mineradores davam aos escravos, em
geral, uma autonomia e liberdade de iniciativa que não se conheceu nas
regiões açucareiras. Muitas vezes trabalhavam longe de seu senhor ou
mesmo por iniciativa própria, obrigados apenas à entrega da parte de
seus achados. Essa situação possibilitou aos escravos acumularem para
si um certo volume de riqueza que, posteriormente, foi utilizado na
compra de sua alforria (liberdade).
Apesar
disso, não se deve concluir que â escravidão fosse menos rigorosa nas
minas. Tal como nos centros açucareiros, â desigualdade foi reproduzida
com â mesma intensidade e â pobreza contrastava com â opulência de uma
minoria. Ao contrário do que se acreditava, â mineração não foi mais
democrática. E mais: as grandes fortunas não tiveram origem na atividade
mineradora, mas no comércio.
A administração das minas
Diferentemente
das outras atividades econômicas da colônia, a mineração foi submetida â
rigorosa disciplina e controle por parte da metrópole. Aqui, as
restrições atingiram o seu ponto culminante. Desde o século XVII â
mineração já se encontrava regulamentada. Os Códigos Mineiros que foram
criados no início do século XVII, embora admitissem â livre exploração
das minas, impunham uma fiscalização rigorosa na cobrança do quinto
(quinta parte do ouro extraído).
Com
as descobertas do final do século XVII, â metrópole elaborou um novo
código, que substituiu os anteriores e perdurou até o final do período
colonial: o Regimento dos Superintendentes, Guardas-mores e Oficiais
Deputados para as Minas de Ouro, que data de 1720. Para a aplicação
efetiva das medidas contidas no regimento, foi criada â Intendência das
Minas para cada capitania em que o ouro havia sido descoberto. A
principal característica desse órgão era a sua completa independência em
relação a outras autoridades coloniais. A intendência reportava-se
diretamente ao Conselho Ultramarino.
O
mais alto cargo da intendência pertencia ao superintendente ou
intendente, que aplicava a legislação e zelava pelos interesses da
Coroa. Outro funcionário importante era o guarda-mor, a quem competia a
repartição das datas (lotes de jazidas auríferas) e a fiscalização e
observância do regimento em locais distantes; em certas circunstâncias
cabia ao guarda mor nomear, pára substituí-lo, os guardas-menores.
A
fim de evitar as sonegações, outro elemento veio a se agregar à
administração: a Casa de Fundição. Na verdade, ela existia desde 1603 e,
de acordo com o Código Mineiro da mesma data, deveria ter uma função
importante na arrecadação do quinto. Todo o ouro extraído deveria ser
levado a essa casa e fundido em forma de barra, da qual se deduzia,
automaticamente, o quinto da Coroa. Nas barras assim fundidas ficava
impresso o selo real e só assim o ouro podia circular.
Todas
as descobertas deveriam ser comunicadas à intendência. Em seguida, os
guardas-mores delimitavam a zona aurífera em diferentes datas. Em dia,
hora e local previamente anunciados, fazia-se a distribuição das datas:
a primeira cabia ao descobridor, a segunda à Coroa, que a revendia
posteriormente em leilão, e, a partir da terceira, procedia-se por
sorteio, embora a dimensão das datas fosse proporcional ao número de
escravos do pretendente.
A
exploração das datas deveria iniciar-se num prazo de quarenta dias.
Caso contrário, o proprietário era obrigado a devolver o seu lote. Em
caso de perda dos escravos, a data poderia ser vendida.
Tributaçao em Minas :
O objetivo da Coroa era garantir, por todos os meios, a sua renda. Desde o século XVII, existia uma legislação minerados que estipulava o pagamento de 20%° (1/5) do ouro descoberto e explorado. Com a descoberta do ouro em Minas, o primeiro problema foi o de saber de que modo esse imposto - o quinto - deveria ser cobrado:
O objetivo da Coroa era garantir, por todos os meios, a sua renda. Desde o século XVII, existia uma legislação minerados que estipulava o pagamento de 20%° (1/5) do ouro descoberto e explorado. Com a descoberta do ouro em Minas, o primeiro problema foi o de saber de que modo esse imposto - o quinto - deveria ser cobrado:
Utilizaram-se, basicamente, três formas: a capitação, o sistema de fintas e as Casas de Fundição.
A
primeira a ser aplicada foi a capitação, que era, na prática, um
imposto que incidia sobre o número de escravas de cada minerador,
esperando-se, com isso, que a arrecadação correspondesse ao “quinto”.
Mas essa medida gerou revoltas, pois os mineradores ficavam sujeitos ao
pagamento mesmo que seus escravos não encontrassem ouro algum.
Tentou-se,
por isso, adotar o sistema de fintas, que consistia no pagamento, pela
população minerados, de 30 arrobas anuais fixas, que, teoricamente,
corresponderiam ao quinto. Mas quem não concordou dessa vez foi o rei,
que obrigou à volta ao regime de capitação. Devido a novas revoltas, ele
recuou e aceitou o sistema de fintas, cujo pagamento foi garantido
pelas Câmaras Municipais locais. Esse sistema foi adotado em 1718.
O
rei continuava insatisfeito. Secretamente fez os seus funcionários
trabalharem para a instalação das Casas de Fundição nas Minas. Segundo
esse novo regime, os mineradores seriam obrigados a enviar o ouro em pó
para ser fundido e transformado em barras com o selo real nas Casas de
Fundição, onde o ouro seria automaticamente quietado.
Em
1719, o governador de Minas, o conde de Assumar, anunciou a instalação,
para o ano seguinte, das Casas de Fundição. A notícia deu origem a
boatos, e os mineradores se revoltaram em vários lugares. O governo de
Minas, entretanto, contava com uma tropa recémcriada, os dragões, que
foi imediatamente utilizada para sufocar as rebeliões. Em junho de 1720
eclodiu em Vila Rica um sério levante organizado por grandes
mineradores, ao qual aderiram também os setores populares encabeçados
por F’ Filipe dos Santos. No processo, o movimento se radicalizou e
acabou sendo controlado por este último. Provavelmente por sua sugestão,
os revoltosos chegaram a pensar em assassinar o governador e declarar a
independência da capitania.
Dezesseis
dias depois da eclosão da revolta, Assumar ocupou Vila Rica com 1500
soldados e pôs fim ao movimento. Filipe dos Santos foi sumariamente
condenado e executado e o seu corpo esquartejado.
Cinco anos depois dessa revolta, finalmente entraram em funcionamento as Casas de Fundição (1725).
A
Coroa e as autoridades coloniais achavam que o único modo de evitar o
contrabando e a sonegação era retirar o máximo das minas. Assim, o
desvio do ouro, se continuasse, seria menor. Por isso, dez anos depois, o
rei ordenou o retorno ao sistema da capitação. Em 1751 a capitação foi
novamente abolida para se adotar um sistema conjugado: Casas de Fundição
e cobrança de cotas anuais fixadas em 100 arrobas (1500 kg). Além
disso, ficou estabelecido que, se as cotas não fossem pagas, toda a
população ficaria sujeita à derrama (cobrança forçada para completar as
100 arrobas). Esse recurso extremo e odiado pelos mineiros foi um dos
fatores que levaram à Inconfidência Mineira em 1789.
Distrito Diamantino
– A opressão colonial havia se intensificado consideravelmente na
mineração do ouro. Mas foi na extração do diamante que se estabeleceu a
forma mais extrema dessa opressão.
Os
primeiros diamantes foram encontrados em 1729, e o regime de extração
era semelhante ao do ouro até 1740. Dos diamantes extraídos pagava-se o
quinto. Em 1740 alterou-se o regime de sua exploração, mediante o
regime de concessão e contrato, que consistia na concessão de exploração
a um único contratador, ficando este obrigado à entrega de uma parte da
produção diamantífera. O primeiro contratador foi João Fernandes de
Oliveira, sucedido mais tarde por Felisberto Caldeira Brant. Esse
sistema perdurou até 1771, quando então se estabeleceu o monopólio real,
com a instalação da Real Extração.
No
tempo de Pombal (1750 - 1777), a extração ficou limitada ao Distrito
Diamantino, atual Diamantina, absolutamente isolado do resto da colônia.
Sua administração era exercida pela Intendência dos Diamantes, cuja
criação data de 1734. No distrito, o intendente possuía poder
virtualmente absoluto, incluindo o direito de vida e morte sobre as
pessoas de sua jurisdição. Ninguém podia entrar ou sair do distrito sem
sua expressa autorização. A fim de evitar o contrabando, instalou-se um
verdadeiro regime de terror, com estímulo à delação, o que favoreceu a
criação de um clima de medo e total insegurança.
O
declínio da mineração. A partir da segunda metade do século XVIII, a
atividade mineradora começou a declinar, com a interrupção das
descobertas e o gradativo esgotamento das minas em operação. O
predomínio do ouro de aluvião, de fácil extração, não requeria uma
tecnologia sofisticada. Porém, à medida que esses depósitos aluvionais
se esgotavam, era necessário passar para a exploração das rochas
matrizes (quartzo itabirito) extremamente duras e que demandavam uma
tecnologia com maiores aperfeiçoamentos. Chegando nesse ponto, a
mineração entrou em acentuada decadência.
A
quase completa ignorância dos mineradores (o conhecimento que se tinha
era fruto da experiência) e a utilização pouco freqüente de novas
técnicas, por falta de interesse e de capital, selaram o destino das
minas no Brasil. A atividade se manteve porque a área de exploração era
grande e as explorações foram conquistando essa região até que ela se
exaurisse completamente nos inícios do século XIX. À Coroa só
interessava o quinto. Assim, a partir de 1824, já na época do Brasil
independente, concedeu-se o direito de prospecção a estrangeiros, que
recomeçaram a explorar com melhores recursos técnicos e mão-de-obra
barata.
Confira ainda:
Bibliografia:
História do Brasil
- Luiz Koshiba - Editora Atual
História do Brasil - Bóris Fausto - EDUSP
A Febre do Ouro
Ainda que a literatura e o cinema brasileiros pouco tenham utiliza do a corrida do ouro de Minas Gerais como matéria-prima para um romance ou filme, a “auri sacra fames” que inflamou os espíritos foi admiravelmente descrita pelo jesuíta italiano João Antônio Andreoni em seu extraordinário “Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas”, escrito sob o pseudônimo de André João Antonil. Embora não tratasse apenas das minas (que só ocupam um quarto do livro e onde Antonil nunca esteve), o livro faz a mais vívida descrição delas. Lançado em 6 de março de 1711, foi proibido dez dias depois e teve sua primeira edição destruída. O livro só voltou a ser publicado em 1898, depois de Capistrano de Abreu ter descoberto que Antonil e Andreoni (nascido em Luca em 1649 e morto em 1716) eram a mesma pessoa. Quando “Cultura e Opulência do Brasil” foi lançado, as autoridades perceberam que o texto aumentaria o já incontrolável fluxo de migrantes. Pelo que escreveu, Andreoni sabia disso: “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do mínimo das pessoas que atualmente lá estão. (…) Dizem que mais de 30 mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; outras em negociar, vendendo e comprando o que se há mister não só para a vida, mas para regalo, mais que nos portos de mar. Cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e estrangeiros. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, padres e clérigos”.
Graças ao relato minucioso de Andreoni/Antonil, sabe-se também como eram exploradas e distribuídas as minas. O ouro descoberto estava, de fato, quase que à flor da terra – em sua maior parte, foi explorado em aluviões, nas areias e cascalhos dos rios, “numa autêntica catagem, que só necessitava braço humano, sem jeito especial ou inteligência amestrada”. A legislação real estabelecia que aos descobridores de cada jazida cabiam duas datas (pequenas extensões de terra aurífera à beira dos rios) de 900 braças (4.356m2). Uma data do mesmo tamanho seria reservada à Coroa. Cada uma das demais datas, de dimensão igual àquela, seria repartida entre os mineradores que possuíssem pelo menos 12 escravos. Aos mineiros com menor número de escravos eram entregues datas de 25 braças por escravo. Dispositivos legais posteriores dispunham sobre o direito dos mineradores ao corte de madeira e à repartição das águas. Quando a exploração se iniciava, os cursos dos rios eram desviados, separando-se trechos de seus leitos por uma ensecadeira. Cavadeira e almocafre eram os utensílios mais utilizados no desprendimento do cascalho, mas eram as bateias, as gamelas e os pratos os instrumentos finais para a “apuração” do ouro. De início, o grosso dos escravos levados às minas era de índios “domésticos” capturados pelos paulistas. Eles logo se finaram. Em março de 1709, d. João VI assinou um alvará “franqueando” o tráfico de africanos aos paulistas (até então limitado a 200 por ano). Em 1738, já 101.477 escravos labutavam nas minas.
Ainda que a literatura e o cinema brasileiros pouco tenham utiliza do a corrida do ouro de Minas Gerais como matéria-prima para um romance ou filme, a “auri sacra fames” que inflamou os espíritos foi admiravelmente descrita pelo jesuíta italiano João Antônio Andreoni em seu extraordinário “Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas”, escrito sob o pseudônimo de André João Antonil. Embora não tratasse apenas das minas (que só ocupam um quarto do livro e onde Antonil nunca esteve), o livro faz a mais vívida descrição delas. Lançado em 6 de março de 1711, foi proibido dez dias depois e teve sua primeira edição destruída. O livro só voltou a ser publicado em 1898, depois de Capistrano de Abreu ter descoberto que Antonil e Andreoni (nascido em Luca em 1649 e morto em 1716) eram a mesma pessoa. Quando “Cultura e Opulência do Brasil” foi lançado, as autoridades perceberam que o texto aumentaria o já incontrolável fluxo de migrantes. Pelo que escreveu, Andreoni sabia disso: “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do mínimo das pessoas que atualmente lá estão. (…) Dizem que mais de 30 mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; outras em negociar, vendendo e comprando o que se há mister não só para a vida, mas para regalo, mais que nos portos de mar. Cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e estrangeiros. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, padres e clérigos”.
Graças ao relato minucioso de Andreoni/Antonil, sabe-se também como eram exploradas e distribuídas as minas. O ouro descoberto estava, de fato, quase que à flor da terra – em sua maior parte, foi explorado em aluviões, nas areias e cascalhos dos rios, “numa autêntica catagem, que só necessitava braço humano, sem jeito especial ou inteligência amestrada”. A legislação real estabelecia que aos descobridores de cada jazida cabiam duas datas (pequenas extensões de terra aurífera à beira dos rios) de 900 braças (4.356m2). Uma data do mesmo tamanho seria reservada à Coroa. Cada uma das demais datas, de dimensão igual àquela, seria repartida entre os mineradores que possuíssem pelo menos 12 escravos. Aos mineiros com menor número de escravos eram entregues datas de 25 braças por escravo. Dispositivos legais posteriores dispunham sobre o direito dos mineradores ao corte de madeira e à repartição das águas. Quando a exploração se iniciava, os cursos dos rios eram desviados, separando-se trechos de seus leitos por uma ensecadeira. Cavadeira e almocafre eram os utensílios mais utilizados no desprendimento do cascalho, mas eram as bateias, as gamelas e os pratos os instrumentos finais para a “apuração” do ouro. De início, o grosso dos escravos levados às minas era de índios “domésticos” capturados pelos paulistas. Eles logo se finaram. Em março de 1709, d. João VI assinou um alvará “franqueando” o tráfico de africanos aos paulistas (até então limitado a 200 por ano). Em 1738, já 101.477 escravos labutavam nas minas.
"O trabalho da bateia e do carumbé, do almocafre e da pá
foram operações que converteram o Brasil das minas em um superinferno de negros,
perto do qual o dos engenhos e fornalhas de açúcar, por Antonil apontado, não
passou de indulgente purgatório", escreveu Afonso Taunay.
Cobiça e
Contrabando
Como
aconteceria um século mais tarde na Califórnia e, em seguida, no Alasca e na
África do Sul, a região das Minas Gerais, logo após a descoberta do ouro,
"constituía uma república onde o atrevimento imperava armado e o direito vivia
inerme". A lei e a ordem levaram seis anos para se estabelecer no reino da
cobiça. Nesse período - de 1694 a 1700 -, as fronteiras da civilização no Brasil
eram percorridas "por homens de toda a casta e de todas as partes, gente de
cabedais e aventureiros sem vintém, em número enorme: os primeiros, arrogantes e
prepotentes, acompanhados por espingardeiros, violentos, vingativos, jogadores e
devassos; os demais, em geral, vadios e ladrões inveterados, traidores e
assassinos". Quando o poder constituído enfim se estabeleceu nas "minas de
Taubaté", a figura escolhida para representá-lo não poderia ser pior. Artur de
Sá e Meneses, ex-capitão-general do Maranhão, fora empossado como governador do
Rio em abril de 1697. Em outubro do mesmo ano, foi a São Paulo (inflamada por
uma guerra civil entre dois clãs rivais). Lá, além de perdoar Manuel de Borba
Gato do assassinato de Rodrigo Castelo Branco, nomeou-o guarda-mor dos sertões
mineiros (a nomeação só se tornou oficial três anos depois) e instigou os demais
habitantes da cidade a "dar todo o calor à laboração das minas". Entusiasmado
pelo ouro que teria recebido de Borba Gato, Artur de Sá decidiu partir para
Minas em agosto de 1700 e lá ficou até junho do ano seguinte. Em setembro de
1701, resolveu passar mais dez meses na região. Quando retornou ao Rio, em 12 de
julho de 1702, trazia consigo 40 arrobas de ouro (cerca de 580 kg) "oferecidas"
pelos mineradores. Ao embarcar para Portugal, em 1705, "arqui-satisfeito com o
resultado das jornadas a que se abalançara", o ex-capitão de infantaria tinha sé
tornado "um dos sujeitos mais opulentos da monarquia". As duas jornadas às
minas, porém, haviam lhe debilitado de tal modo a saúde que, quatro anos mais
tarde, Artur de Sá - chorado publicamente como uma "indeslembrável figura” -
morria em Lisboa, sem deixar herdeiros.
A herança de
Artur de Sá e Meneses fora a primeira legislação mineira aplicada aos fabulosos
achados auríferos das Minas Gerais. Antes da descoberta, a disposição legal
sobre a tributação do ouro se resumia às Ordenações Manuelinas, de 1532,
estipulando que um quinto do minério extraído pertenceria à Coroa. Com a riqueza
aflorando da terra e a dívida externa de Portugal sendo duas vezes superior a
sua renda, as Minas seriam vitimadas por uma das mais absurdas e rigorosas
taxas de tributação criadas até então. Aos mineradores não eram cobrados apenas
os quintos, mas também "direitos de entradas" (sobre todos os produtos vindos de
fora, em alguns casos até 75% do valor da mesma mercadoria no porto do Rio),
"direitos de passagem" (espécie de pedágio cobrado nos rios), dízimos para a
Igreja e o "subsídio voluntário" (criado pelo marquês de Pombal para ajudar na
reconstrução de Lisboa depois do terremoto de 1755). Dos dízimos pagos pelos
mineiros ao receberem suas datas provinham os ordenados dos superintendentes,
guardas-mores, guardas-menores, oficiais e policiais que patrulhavam
furiosamente a região das Minas. Todas as estradas, rios e passagens possuíam
casas de registro e o ouro só podia circular em barras ou com uma guia. Ainda
assim; calcula-se que pelo menos 35% do metal (cerca de 300 toneladas) extraído
da terra foi contrabandeado. A legislação mudou várias vezes (em
1701,1713,1715,1718,1719,1725,1730 e 1750). Em 1713, os mineradores ofereceram,
em troca da suspensão do quinto, uma finta de 30 arrobas anuais à Coroa (baixada
para 25 arrobas em 1718 e aumentada para 37 arrobas anuais em 1719). Mas em
1735, quando o governador Gomes de Freire quis estabelecer um imposto de 17
gramas por ano por escravo, os mineradores ofereceram uma finta de cem arrobas
anuais para a Coroa. Mais do que o esgotamento dos veios, foi a tributação
abusiva que provocou a decadência das minas, não sem antes ter feito eclodir, em
Vila Rica, a Inconfidência Mineira.
O Ouro do Brasil em dados estatísticosTotal de ouro extraído de Minas: 874 toneladas em 80 anos (1700 a 1780).Outras descobertas: Em Goiás, em 1727, pelo Anhanguera - essas minas renderam 160 toneladas - e em Mato Grosso, por Moreira Cabral, em 1729 -renderam 60 toneladas.Conseqüências no Brasil: A mudança da capital de Salvador para o Rio, a ocupação de Minas, Goiás e Mato Grosso e a fermentação da independência.Conseqüências em Portugal: A Coroa deixou de depender dos favores da corte, aumentando seu poder e independência internos. Externamente, após o Tratado de Methuen (1703), Portugal se tornou totalmente dependente da Inglaterra. Proibido de ter indústrias, o país cederia todo seu ouro em troca de bens manufaturados.Quem mais lucrou no Brasil: O padre Guilherme Pompeu, "que às minas jamais foi ter", virou magnata ao se tornar fornecedor e banqueiro dos bandeirantes.Quem mais lucrou em Portugal: Embora a riqueza das minas fizesse com que d. João V fosse chamado de "Rei-Sol português", foi depois da morte dele, em 1750, e a conseqüente ascensão de d. José I, que chegou ao poder o homem que, politicamente, mais se beneficiou com o ouro brasileiro: o todo-poderoso marquês de Pombal.
O Distrito
Diamantino
Como se todo o fausto e os favores que o ouro trouxera para a
corte não fossem o bastante, em 1727 chegava a Portugal a notícia de que, nas
fraldas do Serro Frio, num lugarejo conhecido por Arraial do Tijuco (hoje
Diamantina), surgira uma grande lavra com os mais reluzentes diamantes. Dom João
V exultou. Pelo reino todo se celebraram "festas esplêndidas, e te-déuns e
procissões inumeráveis que extasiaram o povo português, por quadrarem à sua
religiosidade. Para Roma remeteu o governo as primeiras amostras. Ações de
graças solenes se deram ao Todo-Poderoso na capital do mundo católico. O santo
papa, os cardeais e todos os monarcas da Europa felicitaram d. João V. Não se
ocuparam os povos da terra com outro objeto e notícia. Dir-se-ia que se
descobrira coisa que devia regenerar e felicitar o universo".
No Tijuco, porém, a alegria duraria pouco. A política que
Portugal instaurou no distrito diamantino seria das mais repressivas e
opressoras da colonização européia na América.
A notícia oficial da descoberta dos diamantes foi feita uns
dez anos após os primeiros achados. O lusitano Bernardo da Fonseca Lobo, que
achou uma "faisqueira" em 1723, é tido como o primeiro descobridor, mas desde
1714 havia notícias do surgimento de diamantes e topázios. Assim que a riqueza
do veio ficou evidente, Lisboa anulou todas as cartas de datas concedidas na
região e declarou a extração de diamantes o mais absoluto monopólio da Coroa,
constituindo o Distrito Diamantino, com sede no Tijuco.
Por quase cem anos, a Coroa manteve a zona diamantina na mais
absoluta clausura, proibindo a presença de "negros e pardos livres, de
desocupados ou pedintes". Vendas e tabernas foram fechadas, comerciantes
expulsos. Um estado policial se instalou na região. A situação permaneceu igual
mesmo depois de 1740, quando a Coroa decidiu "vender" o direito de exploração a
um contratante. O sistema perdurou por 30 anos e revelou-se mais eficiente:
extraíram-se, então, 1.666.569 quilates das minas.
O Brasil jogou tantos diamantes no mercado europeu que o
preço do quilate caiu 75%. Dos seis contratantes que detiveram o poder de
explorar os diamantes, quatro caíram em desgraça depois que o marquês de Pombal
assumiu o comando da corte em Lisboa. Ao longo de sete décadas (de 1740 a
1810), o Brasil produziu cerca de 3 milhões de quilates. Mais de 10 mil escravos
trabalharam nas minas -muitos deles, bem como vários "vadios" capturados na
região, foram torturados até a morte sob a acusação (às vezes irreal) de roubo
de diamantes.
Apesar da clausura medieval imposta às minas, em 1809 o
viajante inglês John Mawe - geólogo diletante mas competente - obteve permissão
para visitar o Arraial do Tijuco. Fez um relato detalhista e fluente. Junto com
o clássico "Memórias do Distrito Diamantino", escrito em 1868 por Joaquim
Felício dos Santos, a "Viagem ao Interior do Brasil", de Mawe, permanece como
fonte fundamental para o estudo do reluzente e trágico período dos diamantes.
Xica da Silva
De todos os incríveis personagens forjados pela opulência de diamantina , talvez nenhum tenha sido mais extraordinário do que a ex-escrava Xica da Silva, também conhecida como Xica que manda. Amante do desembargador João Fernandes de Oliveira, sexto contratador dos diamantes - homem “rico como um nababo, poderoso como um príncipe e soberano do Tijuco”-, Francisca da Silva era filha de um português com uma africana e fora escrava de José Silva Oliveira (pai do inconfidente José Oliveira Rolim). Assim que foi libertada e se tornou amante do desembargador, Xica da Silva virou a pessoa mais influente do Tijuco. O marido mandava na cidade, e ela mandava no marido.
Xica da Silva ia à missa coberta de diamantes, acompanhada por 12 mulatas esplendidamente trajadas. “O lugar mais distinto do templo era-lhe reservado”, diz Joaquim Felício dos Santos, segundo o qual Xica era “alta, corpulenta, de feições grosseiras e cabeça raspada; não possuía graças, não possuía beleza, não possuía espírito”. O historiador nasceu 12 anos depois da morte de Xica (ocorrida em 1796). Felício descreve também o “magnífico edifício em forma de castelo, com teatro particular, delicioso jardim de plantas exóticas, cascatas artificiais e um vasto tanque, com um navio em miniatura para oito ou dez pessoas” que João Fernandes - logo derrubado por Pombal fez construir para a amada.
Bibliografia:
História do Brasil - Luiz Koshiba - Editora Atual
História do Brasil - Bóris Fausto - EDUSP
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