Keblinger

Blog da Tia Maryane

domingo, 18 de agosto de 2013

A África negra antes dos europeus: O Império do Mali e o Reino do Congo






 







Numa cultura oral como a africana, o griot conserva a memória coletiva. Por isso, é costume dizer-se que «quando na África morre um ancião é uma biblioteca que desaparece». A figura do griot tem uma enorme importância na conservação da palavra, da narração, do mito. Na prática, eles funcionam como escritores sem papel nem pena. Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memória e no coração dos seus familiares e conterrâneos, no sentido de manter incrustada a identidade do seu ser e das suas raízes, fundamentada, em grande parte, no seu passado e nos seus predecessores.

Os griots são os guardiães, intérpretes e cantores da História oral de muitos povos africanos. Na língua mandinga são conhecidos como jali e na África Central como mbomvet. Todos eles possuem uma função social bastante semelhante e de grande relevância.

Os griots cantam a história épica da África e os mitos dos diferentes povos, ou elogiam os méritos dos heróis e personagens do passado, geralmente acompanhados por instrumentos musicais, como a kora ou o xilofone. 

A contação de histórias anda a todo vapor nos hospitais de Campinas e região. Há relatos de fadas e príncipes que foram vistos no HC da Unicamp e no Hospital da PUC de Campinas, duendes e cavalos alados no Hospital Mário Gatti e no Centro Infantil Boldrini. Algumas crianças juram de pé junto que conversaram com a Chapeuzinho Vermelho no Hospital Estadual de Sumaré e outras que brincaram de roda com a Rapunzel nas Santas Casas de Itatiba e Vinhedo.


           



Estes fatos são reflexos do trabalho desenvolvido pela Associação Griots - Os Contadores de Histórias, uma organização não-governamental que tem como meta plantar e colher sorrisos em hospitais.

O nome da Associação faz referência a grandes contadores de histórias africanos que, apesar de ainda atuarem isoladamente em algumas regiões da África Ocidental, tiveram, há séculos, um vasto e importantíssimo papel na evolução e manutenção da cultura e tradição de todo continente.

Os Griots, contadores e cantadores de histórias, eram considerados verdadeiras bibliotecas ambulantes e sua importância era tão grande que eram poupados até pelos inimigos nas guerras. Lendas, feitos heróicos e lições de vida, tudo era adorado e servia de alimento para o espírito alegre e guerreiro do povo do continente.        

     Entre os séculos VIII e XVII, a África ao sul do Deserto do Saara era habitada por vários povos negro-africanos, cada um com seu jeito próprio de ser. Alguns desses povos construíram Impérios e reinos prósperos e organizados, como o Império do Mali e o Reino do Congo.
O Império do Mali
    Há poucos documentos escritos sobre o Mali; os vestígios arqueológicos (vasos, potes, panelas, restos de alimentos e de fogueiras) também são reduzidos. Assim, as principais fontes para o conhecimento do Mali têm sido as histórias preservadas pelos griots e transmitidas de boca em boca, dos mais velhos para os mais jovens.
    Contam os griots que, lá pelo início do século XIII, na África Ocidental, o povo mandinga do pequeno reino do Mali foi conquistado e dominado pelo povo sosso, do então reino de Gana, cujo rei era muito cruel. Certo dia, os mandingas se rebelaram e, liderados pelo príncipe Sundiata Keita, venceram seus opresssores na batalha de Kirina, em 1235. Cinco anos depois, à frente do povo mandinga, Sundiata Keita conquistou Gana e passou a reinar sobre um extenso território denominado Império do Mali.
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 Mapa do Império do Mali

História política
      No poder, Sundiata anexou o reino de Gana e converteu-se ao islamismo. Com o título de mansa, ele organizou o Império do Mali, dividindo-o em províncias, e deslocou sua capital para Niani, no sul do Mali. De lá partiam duas grandes estradas: uma que apontava para o norte e outra voltada para o nordeste. Nesta última, surgiram duas grandes cidades negras: Djenné e Tombuctu.
      Cinquenta anos depois, o mansa Abu Bacar I amplia o território do Mali conquistando o reino de Songai. Com seu sucessor, Kanku Mussá, o Império do Mali chegou a seu apogeu. E, graças a suas ricas minas de ouro e ao controle das vias de comércio com a Líbia e o Egito, tornou-se o Estado mais rico da África Ocidental.
      Durante seu reinado, o mansa Kanku Mussá fez sua famosa peregrinação à cidade de Meca, levando consigo 60 mil pessoas e algumas toneladas de ouro para distribuir entre os necessitados e presentear outros governantes muçulmanos, como o sultão do Cairo. A distribuição de ouro foi tanta que o preço desse metal precioso despencou. Na volta, Kunku Mussá trouxe consigo um grupo de sábios e arquitetos que colaboraram para a glória do maior Império africano de seu tempo.
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 África atual: divisão política e regiões
Economia malinesa
    O Mali era o maior produtosr de ouro da África. Além da mineração, os malineses praticavam a agricultura e o pastoreio. Cultivavam arroz - a espécie nativa do valedo rio Níger -, milhete, inhame, algodão, feijão e outros legumes. E, no vale do Níger, criavam bovinos, ovinos e caprinos. O peixe defumado complementava sua alimentação. A cada colheita, uma parte simbólica era oferecida ao imperador.
      O artesanato era bastante desenvolvido. Os artesãos estavam divididos em grupos profissionais: marceneiros, cesteiros, ferreiros, barqueiros, tecelões, ourives etc. Os ourives e os tecelões eram os mais prestigiados. Cada grupo de artesãos tinha seu representante perante o imperador. Os artesãos malineses eram habilidosos, como se pode ver (à direita) por esta Kora, instrumento musical usado pelos griots.
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 O sal das minas do deserto do Saara
Administração e poder
      No Mali, o imperador era a maior autoridade, mas seu jeito de conduzir o governo era singular: ele ouvia as queixas de seus súditos e julgava os casos mais importantes pessoalmente.
      O imperador ouvia seus auxiliares (o conselho) sempre que precisava tomar uma decisão importante. Uma figura de destaque na corte africana era o griot. Os griots eram procurados por minutos reis africanos para serem professores particulares de seus filhos. Eles ensinavam arte, passavam conhecimentos sobre plantas, tradições, história e davam conselhos aos jovens príncipes.
       A política de consulta aos povos do Império, combinada com um exército bem treinado e o respeito às tradições e aos costumes dos povos sob seu domínio, contribuiu para que o Império do Mali durasse cerca de 300 anos e chegasse a ser bastante populoso. No século XIV, durante seu apogeu, ele chegou a ter 45 milhões de habitantes.
O Mali e os portugueses  
       No final do século XV, porém, o Mali, o mais respeitado Império da África Ocidental, começou a perder território para outros reinos negros surgidos na região, como o de Songhai. Além disso, em seu litoral despontou uma nova ameaça: os portugueses. Eles também tinham experiência na política e no comércio, com uma vantagem: possuíam armas de fogo, desconhecidas pelos malineses.
       Inicialmente, os traficantes portugueses tentaram eles próprios escravizar as populações da costa africana. Mas, como essas populações resistiram, eles mudaram de tática: começaram a propor ajudar militar a chefes africanos que lutavam entre si. Era comum também oferecerem vantagens comerciais a eles, incentivando-os a se rebelar contra o imperador do Mali. um exemplo: com a ajuda portuguesa, o governante da região litorânea de Salum separou-se do Mali, que, com isso, ficou sem sua porta para o Atlântico. No final do século XVI, enfraquecido, o Mali foi perdendo territórios e se esfacelando.
O Reino do Congo
       No ano 1000, a África, ao sul da Linha do Equador, era habitada por povos que falavam lìnguas banto. Nessa imensa área, os africanos também formaram reinos poderosos e organizados, entre os quais o reino do Congo.
       Tudo começou quando Nimi Lukeni, chefe do povo Kicongo, atravessou o Rio Zaire (chamando pelos portugueses de Congo) e se casou com uma mulher do povo ambundo. Desse casamento e da união entre esses dois povos bantos nasceu, no final do século XIV, o reino do Congo. Nimi Lukeni recebeu o título Mani Congo, que quer dizer "senhor do Congo". Pouco a pouco, seus sucessores foram ampliando o território do reino por meio de conquistas militares e casamentos.
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 Mapa do Reino do Congo: século XIV
O poder do Mani Kongo
      O centro de poder localizava-se em Mbanza Congo, capital, de onde o Mani Congo exercia sua autoridade, com o auxílio conselheiros, entre os quais estavam os coletores de impostos, os secretários reais, os oficiais militares e os juízes.
      Assim como os reis europeus, o rei do Congo possuía seu trono, seus súditos e recebia impostos, que eram pagos em espécie (sorgo, vinho da palma, metais, frutas, gado, marfim e peles) e em dinheiro.
Os congos e os portugueses  
    Os congos viviam com seus costumes quando o capitão português Diogo Cão chegou à foz do Rio Congo, em 1483.  No primeiro contato, o rei do Congo, talvez por temor das armas de fogo portugueses, recebeu-os cordialmente. Aproveitando-se disso, os comerciantes portugueses começaram a interferir na política africana.
      Com a morte do rei do Congo, abriu-se uma disputa pelo trono entre seus dois filhos. Os 
comerciantes portugueses ajudaram um deles, Nzinga Mbemba, a vencer o irmão nessa disputa. Logo que começou a reinar em 1505, Nzinga Mbemba converteu-se ao cristianismo e adotou o nome português Affonso. A partir de então, estudou dez anos com os padres em Mbanza Congo, aprendendo a falar e a escrever bem em português.
      Affonso I (1505-1543) procurou adquirir os conhecimentos e as armas que vinham da Europa, pensando certamente em fortalecer seu reino. Com essa intenção também enviou jovens africanos para estudar em portugal e escreveu ao rei português pedindo que enviasse missionários, médicos e professores a seu país. De portugal, porém, vieram principalmente traficantes interessados em conseguir homens, mulheres e crianças para escravizar e vender
Ao aperceber-se disso,o rei africano Affonso I escreveu cartas ao rei de Portugal pedindo que  proibisse o comércio de africanos.O rei de Portugal não deu ouvidos ao rei do Congo e o tráfico continuou intenso.O rei  mani Congo Affonso I ,então,tentou apelar ao papa,mas assim que seus emissários chegavam a Lisboa eram detidos e não conseguiam seguir viagem ao Vaticano.
  Depois da morte de Affonso I, o reino do  Congo continuou declinando e servindo de sementeira para o tráfico de seres humanos.Em 1665,os  Congos tentaram uma revolta antilusitana,mas foram vencidos por tropas lideradas pelos portugueses,que passaram então a dominar o Congo.






ATIVIDADES:



1. Explique a seguinte frase: “Apesar dos aspectos comuns suscetíveis de serem encontrados em muitos dos reinos africanos, é difícil afirmar que exista uma África, mas sim várias Áfricas”.

2-. (ENEM) A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A) referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque a legitima o ensino das ciências humanas nas escolas.
B) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.
C) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.
D) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.
E) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnicoracial do país.


5. Apresente uma diferença entre a escravidão existente na África antes da chegada dos europeus e a escravidão na América Portuguesa?
6) Elabore uma tabela sobre a economia Mali:
a)Principais produtos agrícolas
b)Atividades econômicas
c)produtos comercializados pelos malineses
7-O que se explica a longa duração do Império do mali